NÃO É MI MI MI, É RACISMO ESTRUTURAL!

NÃO É MI MI MI, É RACISMO ESTRUTURAL!

Recentemente foi revelado à opinião pública que vinícolas do Rio Grande do Sul estavam empregando mão-de-obra em condições análogas à escravidão. Segundo o portal G1, as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton, ao serem flagradas, afirmaram que desconheciam as irregularidades e ainda tiveram a desfaçatez de publicar uma nota – imediatamente apagada, devido ao vexame – em que afirmavam que a culpa era da existência de auxílio emergencial para pobres, por isso, os trabalhadores agora se recusam a trabalhar.

Como se não bastasse, o vereador Sandro Fantinel do partido Patriotas, ao defender os proprietários destas vinícolas, cometeu racismo em plena tribuna, ao discriminar os baianos e nordestino de um modo geral. A lei 7.716 de 1989, que previne crimes de raça ou de cor, em seu Art. 4°, parágrafo 1° é taxativa ao tipificar como crime a “discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica”.

Na verdade a escravidão no Brasil nunca deixou de existir, em 13 de maio de 1888 ela foi abolida enquanto modo de produção chancelado pelo Estado, mas, de fato, como prática nefasta ela permaneceu até os nossos dias. Nas fazendas de cana de açúcar, nas casas “de família de bem”, nas vinícolas, nas minerações, nas oficinas de costura clandestinas, entre outros espaços, o trabalho em condições indignas, sem remuneração – pois os trabalhadores são levados para outros Estados e lá descobrem que já contraíram a dívida da passagem, alimentação e estadia, e são obrigados a trabalhar para pagar essa dívida – e sem fiscalização dos governos de plantão.

Junto às formas antigas e atuais de escravidão, está a ideologia dominante que mantém e reproduz e discurso do opressor que explora, humilha e minimiza o impacto sobre as vítimas. Minimizam nos discursos públicos em tribunas municipais, estaduais e federal, em notas de desculpa que na verdade são tão ou mais racistas, na falsa ideia de “liberdade de expressão”, na ideia de mi, mi, mi.

Só que é de racismo estrutural que se trata, que sobrevive e se perpetua sobre uma base material que lhe dá sustentação: a escravidão!

Sabemos que é crime, sabemos quem são os culpados pelo crime, sabemos onde vivem e onde trabalham, aliás, eles aparecem publicamente em lives estampando o sorriso da impunidade, eles não têm medo de mostrar a cara, e nós? O que estamos fazendo? Nós temos culpado as vítimas, mas, até quando vamos seguir esse ciclo vicioso de se escandalizar, não com os algozes, mas com as vítimas, de buscar justificar nas atitudes das vítimas o motivo pelo crime?

Precisamos falar de racismo estrutural sim, e mais que isso, precisamos denunciar a  impunidade e exigir a punição, sob pena de negligenciar a nossa própria existência. Hoje é com os negros, com as mulheres, com os LGBTQIAP+, amanhã será com você…

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